17/11/2014 10h00

Política de Lula e Dilma fortalece movimento sindical

Seguindo com o cronograma de palestras do Seminário de Pauta da categoria de TI, o cientista social e mestre em Ciência Política Armando Boito Jr. apresentou nesta sexta-feira, 7, uma abordagem importante sobre a recuperação do movimento sindical aos longos dos anos e os desafios que a atual conjuntura econômica e política do País têm imposto à luta popular.

De acordo com o cientista, o movimento sindical brasileiro encontrou apoio e se fortaleceu em consonância com as políticas desenvolvimentista dos governos de Lula e Dilma que, em muito, se alicerçam nas pautas de interesse dos trabalhadores, tais como a valorização do salário mínimo, o incentivo à geração de emprego e a reforma do fator previdenciário.

Armando Boito Jr afirma que governos de esquerda vêm sindicatos como importante força social de mudança.

Armando Boito Jr afirma que governos de esquerda vêm sindicatos como importante força social de mudança.

Para ele, embora a política nacional esteja dividida em duas frentes – de um lado os que apoiam as práticas de exploração impostas pelo capitalismo neoliberal e de outro os que defendem a reforma deste modelo que oprime a classe trabalhadora -, a ascensão ao poder de um representante da luta do povo, na figura de Luiz Inácio Lula da Silva, deu novo fôlego à organização sindical na medida em que legitimou sua atuação em defesa da ampliação dos direitos trabalhistas. “Não resta a menor dúvida, o movimento sindical encontra-se em fase de grande recuperação. Entre os anos de 2000 e 2010, as políticas neodesenvolvimentistas melhoram as condições de vida e de luta, por isso o movimento sindical melhorou tanto, porque o desemprego caiu bruscamente e, num cenário de desemprego acentuado, o trabalhador fica com medo de participar de greve”, destacou Boito Jr.

Segundo a exposição do cientista social, na década de 1990, quando os governos neoliberais, nas figuras de Collor de Melo e FHC, impediam a organização trabalhista utilizando-se de artifícios do sistema capitalista, as análises históricas davam conta de que o sindicalismo nacional estava em declínio.

“A análise do movimento sindical tem de ser feita de modo a inseri-lo no cenário econômico. Na década de 1990, dos governos neoliberais mais ortodoxos, o quadro era desfavorável para o movimento sindical. O desemprego se aproximou da casa dos 20%. Havia uma pressão muito forte para impedir o crescimento dos direitos dos trabalhadores. Nessa época havia greve, mas a grande maioria delas era defensiva, visava apenas impedir a supressão de direitos já conquistados”, explicou.

No entanto, e contrariando as expectativas das frentes neoliberais mais extremadas, a recuperação do sindicalismo nacional não tardou, já que estatísticas de greve e os levantamentos sobre acordos e convenções coletivas produzidos pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos) evidenciam a ascensão do movimento trabalhista logo no primeiro mandato do governo Lula, em ritmo acelerado e continuo no governo de Dilma Rousseff.

No ano de 2004, os dados registraram pouco mais 300 greves, mas os números continuaram a crescer de maneira linear e ininterrupta. Em 2012, as pesquisas apontaram mais de 800 mobilizações. Para oferecer um comparativo quanto aos ganhos reais resultantes da organização sindical, no ano de 2003 apenas 18% dos acordos e convenções coletivas obtiveram aumento real de salário, sendo que em 2012 cerca de 95% delas obtiveram crescimento acima da inflação.

“Esses números são muito significativos. Penso que eles dão apoio à tese que tenho defendido de que o sindicalismo brasileiro, após atravessar um período de grandes dificuldades na segunda metade de 1990 e nos dois primeiros anos da década de 2000, entrou, a partir de 2004, num período de forte recuperação”, evidenciou Armando Boito Jr.

Para o presidente do Sindpd, Antonio Neto, “nos últimos anos, os trabalhadores representados pelo Sindicato conquistaram reajustes salariais acima da inflação. Nossa Convenção Coletiva é uma das poucas do Brasil que garantiu a redução da jornada de trabalho para 40 horas aos profissionais de TI. Isto é fruto de muita organização, sim, mas também é resultado dessa sintonia que temos com as políticas desenvolvimentistas dos governos de Lula e Dilma, que não colocam o capital acima dos direitos da classe trabalhadora”, disse.

No entanto, de acordo com Neto, para avançar nas conquistas trabalhistas o movimento sindical precisa ser mais realista, já que, algumas vezes, o próprio esquerdismo inviabilizou o progresso de pautas desenvolvimentistas.

“Sobre as 40 horas semanais, o esquerdismo não nos ajudou, para eles era 40 horas ou nada. Michel Temer, então presidente da Câmara, propôs que a redução da jornada de trabalho acontecesse de forma gradual, mas algumas centrais sindicais não aceitaram, era tudo ou nada. Quanto ao fator previdenciário, apenas duas ou três centrais sindicais fecharam, a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) foi uma delas, mas perdemos porque o esquerdismo disse não. Acho que agora, neste segundo mandato da presidente Dilma, nós vamos precisar fazer uma autocrítica”, afirmou.

A importância do movimento sindical no processo político nacional

O fortalecimento da organização sindical não se deve apenas à atividade grevista e aos resultados positivos destinados à massa trabalhadora. Para Boito Jr., a recuperação também deve ser enxergada sob a ótica de que o sindicalismo tornou-se uma força social importantíssima no processo político nacional.

“O sindicalismo vem atuando como força integrante, embora subordinada, daquilo que eu denomino como frente política neodesenvolvimentista. O movimento sindical teve um papel importante na eleição de Dilma Rousseff, em 2010 [e em 2014], quando todas as centrais sindicais a apoiaram, de modo ativo e ostensivo”, explicou.

Além da defesa dos interesses da classe trabalhadora e das maiorias oprimidas, a chegada dos governos de esquerda ao Planalto viabilizou a construção um diálogo mais aberto com o movimento sindical. “O Partido dos Trabalhadores chamou o movimento sindical para negociar, legitimou sua atuação. As políticas destes governos, neodesenvolvimentista, estão forçando os limites da frente neoliberal”, ressaltou Boito Jr.

Desafios do sindicalismo nacional

Sob a ótica do cientista social e mestre em Ciência Política, Armando Boito Jr., as reivindicações das massas trabalhadoras estão casa vez mais heterogêneas e os programas sociais desenvolvimentistas, que no geral atendem as camadas mais marginalizadas, precisam avançar para conseguir atender com a mesma intensidade os interesses das classes sociais em suas diversas camadas.

“As políticas desenvolvimentistas ainda não têm contemplado, de maneira forte, os trabalhadores que tem emprego, carteira assinada e salário razoável, porque suas pautas são mais complexas de serem solucionadas e afeta a estrutura do empresariado. Do jeito que esta não dá para ficar, é preciso avançar, dar passos a frente”, ponderou.

O especialista ainda argumentou que, em um cenário de baixo crescimento econômico, as frentes neoliberais tendem a estimular grande ofensiva contra o movimento desenvolvimentista. “É necessária uma pressão de fora do Congresso, uma pressão vinda das ruas, para fazer com que o governo dê este passo à frente para atender às necessidades do movimento popular e sindicalista”, concluiu Boito Jr.

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